Milícias no Rio de Janeiro

No dia 29 de outubro de 2018 o BRICS Policy Center sediou o diálogo “Milícias no Rio de Janeiro”, do BRICS-Urbe. O programa, que desde o ano passado está focado na investigação das dimensões da desigualdade socioespacial, tem como objetivo se somar a outras iniciativas, pesquisas e práticas na cidade que buscam avançar a agenda do direito à cidade por um Rio de Janeiro mais justo, igualitário e seguro.

Os palestrantes convidados foram Ignácio Cano, Coordenador do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e Fransérgio Goulart, Assessor Político do Fórum Grita Baixada.

Ignácio Cano, que participou dos trabalhos seIs por meIa dúzIa? e No sapatinho, falou sobre a dificuldade de pesquisar sobre a milícia devido a um alto grau de intimidação produzido por esses grupos. De acordo com o pesquisador, diferente do tráfico, os milicianos não estão interessados em visibilidade, agindo com discrição crescente nos últimos anos.

O foco do seminário foi o avanço das milícias em determinados territórios do estado do Rio de Janeiro e o poder que estes grupos exercem no controle dos serviços, na garantia de “segurança” local e na ordem social. Cano apontou também que a milícia vem dominando territórios que antes eram influenciados pelo tráfico, aumentando sua área de controle. Em espaços sob o domínio da milícia, a população é obrigada a pagar taxas aos milicianos, através de monopólios coativos, por serviços como transporte, TV a cabo e até taxas de “proteção”.

De acordo com Fransérgio Goulart, cerca de dois milhões de pessoas vivem atualmente em áreas influenciadas pela milícia no Rio de Janeiro. Para ele, a ineficiência do Estado no combate a essas organizações vem da inexistência de políticas de segurança baseadas no combate ao racismo. Goulart destacou ainda algumas formas de resistência da população, como a produção do documentário Nossos mortos têm voz (2018) e o Tribunal Popular realizado em setembro desse ano em Duque de Caxias, que simulou o julgamento de mortes causadas por agentes do estado na Baixada Fluminense.