VIII Conferência Ministerial China Países Árabes – Pequim 2018

Cooperação Sino-Árabe: desenvolvimento pacífico conjunto ou projeção global dos interesses chineses?

Autora: Lara Mendes

 

O Fórum de Cooperação China-Países Árabes (CASFC) foi criado com o objetivo de estreitar as parcerias birregionais, visando à promoção de relações políticas pautadas em respeito mútuo, bem como à ampliação de trocas comerciais, econômicas e culturais. Além de tratar-se de mais um mecanismo de diálogo entre os países do Sul Global, o Fórum faz parte de uma tendência chinesa, que vigora há pelo menos duas décadas, de ampliar sua influência no Sistema Internacional. A 8ª Conferência Ministerial do CASFC aconteceu em Julho de 2018 e estabeleceu as perspectivas futuras da cooperação, que foram expostas na Declaração de Pequim. Tendo em vista a busca da China por, cada vez mais, aprimorar os fóruns regionais dos quais faz parte, é possível observar os benefícios obtidos pelo gigante asiático sob uma ótica de análise dos mecanismos desses fóruns, como uma base para uma ordem internacional, na qual os interesses chineses prevaleçam.

 

Para além dos mecanismos regionais aplicados no Fórum, a ampliação de investimentos e cooperação ao longo do mundo, pode ser observada com a Belt and Road Initiative.  A proposta chinesa de implementação dessa iniciativa aos países árabes foi feita em 2014 e, a título de definir os princípios, objetivos e as prioridades para a cooperação, além do caminho a se seguir quanto a ela, foi implementada a Declaração de Ação Sobre a Belt and Road Initiative (BRI). Reclamações recorrentes sobre a iniciativa, são feitas, no que se refere à falta de reciprocidade da China nas relações econômicas, principalmente em relação da abertura de empresas estrangeiras no país, desencontrando da ideia de mútuo entendimento e desenvolvimento.

 

Ademais, inserido nas intenções econômicas do Plano de Ação do Fórum (2018-2020), houve o estabelecimento da Associação de Bancos China-Árabe, com o apoio conjunto do Banco de Desenvolvimento da China e de Bancos árabes de desenvolvimento relevantes. A iniciativa partiu da China, com o objetivo de promover um alinhamento entre a Belt and Road Initiative e as visões de desenvolvimento dos bancos árabes, garantindo a estabilidade à longo prazo e resultados da colaboração financeira que beneficiem as partes envolvidas. Nessa perspectiva, é possível observar essa Associação de Bancos, como mais uma estratégia chinesa de aumentar sua proeminência, em face dos países em desenvolvimento. Isso se dá, a partir da criação de um novo mecanismo multilateral, com o qual possa moldar as regras da cooperação, sendo capaz de agregar um caráter de previsibilidade e garantir a manutenção da estabilidade em suas relações.

 

Assim, é possível analisar a formulação de políticas e estratégias chinesas, em suas relações exteriores, tendo em vista um desenvolvimento pacífico e os benefícios mútuos, que são amplamente defendidos em documentos e discursos oficiais. A busca crescente por engajamento em nível multilateral mostra o desejo chinês de reformar a lógica internacional ocidental, há tempos predominante, de forma a reiterar sua presença no cenário global. As parcerias com países em desenvolvimento, como a com os membros do CASFC, são fundamentais na manutenção e no progresso do interesse chinês em aumentar sua relevância internacional. Dessa forma, o país gera mais dependentes de seus investimentos e da sua parceria, sob o pretexto de almejar uma prosperidade global, partindo de cooperações amigáveis (nas quais se alega a predominância de ganhos mútuos, como meio possível de atingir a modernização para todas as partes), quando, de fato, une esforços para, cada vez mais, posicionar a Ordem Internacional à seu favor.

Publicado em abril de 2019