A expansão do BRICS e o papel da China no agrupamento

Rafaela Mello Rodrigues de Sá

Maria Elena Rodriguez

 

Com o cenário de conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o agrupamento BRICS volta a ser pauta na agenda internacional. As sanções dos países ocidentais contra a Rússia acabaram suscitando maiores aproximações dos atores russos com os outros membros do agrupamento, visando impedir um isolamento político e econômico. Além disso, na 14ª cúpula do BRICS em junho de 2022, na China, a ideia de estabelecer o BRICS Plus voltou à tona. Com a expansão do agrupamento e participação de outros países do Sul Global, esta questão promoveu discussões em diversas esferas, principalmente sobre qual seria o papel do BRICS neste contexto de transformações.

Dessa forma, compreender a atuação da China na dinâmica do agrupamento BRICS – considerando a preponderância econômica e a crescente relevância do país asiático nas instituições internacionais – é um tema preponderante.

Relacionado a isso, a ideia de expansão dos membros do BRICS merece atenção. A iniciativa do BRICS Plus foi introduzida pela China em 2017 – após críticas ao agrupamento por ser analisado como um clube exclusivo – com o objetivo de aumentar o diálogo e a cooperação com outros países em desenvolvimento

Após 5 anos, a Cúpula do BRICS na China de 2022 foi marcada pelo convite de líderes externos, sendo a primeira vez que países que não fazem parte do arranjo são convidados para a reunião de líderes (VAZQUEZ, 2022). O principal objetivo da ideia de expansão é “fortalecer o diálogo e a cooperação entre o BRICS e outros mercados emergentes e países em desenvolvimento, facilitar a criação de relações de parceria mais amplas e estimular o desenvolvimento conjunto e a prosperidade em formatos mais amplos” (LUKIN, XUESONG, 2019, p. 08, tradução própria), refletindo assim um espírito de cooperação e uma influência positiva deste formato.

Dessa maneira, é importante refletir que ao mesmo tempo que o BRICS plus apresente uma plataforma para os países em desenvolvimento, possibilitando que estes consigam aumentar sua representatividade na governança global (YING, 2022), esse processo de expansão também demonstra interesses econômicos e geopolíticos por parte da China.

Mesmo que alguns dos membros do BRICS não participem formalmente da Iniciativa chinesa Um Cinturão Uma Rota – como é o caso do Brasil e da Índia, é possível relacionar o processo de expansão do BRICS a este empreendimento global liderado pela China. O interesse chinês em ampliar o número de países que fazem parte do agrupamento pode estar associado a uma busca por estabilizar a região da Ásia Central e do Oriente Médio, cuja localização se torna relevante em relação às rotas terrestres do projeto. Dessa forma, a inclusão de países desta localidade – como por exemplo o Irã – poderia contribuir para a estabilização da região, facilitando a implementação da iniciativa (SILVA, 2022). Além disso, a recente adesão da Argentina à Belt and Road Initiative – em fevereiro de 2022 – também demonstra a aproximação dos BRICS e da iniciativa de infraestrutura global, pelo menos do ponto de vista chinês.

A Argentina tem interesse, dada a sua relação tumultuada com o FMI e a dependência histórica das instituições ocidentais para lidar com as crises da dívida soberana. Entre buscar novas opções de financiamento da China (Iniciativa do Cinturão e Rota) e adquirir suas vacinas da Rússia, há uma clara intenção estratégica de redefinir suas relações geopolíticas e geoeconômicas. Vários outros países insatisfeitos do sul global expressaram um desejo semelhante de ingressar no BRICS, pois acreditam servir melhor aos interesses das nações em desenvolvimento.

Além da Argentina, relatórios recentes sugerem que a China pretende defender a inclusão do Egito, Indonésia, Cazaquistão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Nigéria, Senegal e Tailândia. Pesquisadores acreditam que o motivo de Pequim é reestruturar e expandir o BRICS sob sua liderança e diluir o papel do Brasil e da Índia.

Entretanto, a ideia de ampliação dos membros do BRICS pode encontrar entraves, gerando desafios à iniciativa. Se por um lado, a Índia se preocupa com o aumento da influência chinesa no agrupamento, o Brasil tem receio de que sua importância na região possa ser diluída por outros membros da América do Sul, e a Rússia deve impedir a entrada de países pró-Ucrânia; por outro lado, todos os países BRICS acreditam que a entrada de novos membros poderá aliviar tensões internas, como a rivalidade China-Índia (VAZQUEZ, 2022), deixando o agrupamento mais estável.

Nesse sentido, levando em consideração as diversas iniciativas chinesas, cabe questionar se a China estaria buscando o fortalecimento dos mecanismos no âmbito do BRICS e ampliação de seus membros, com um interesse em aumentar a legitimidade chinesa na governança global, considerando a posição do país asiático na economia global.

A partir da ampliação dos membros do BRICS, inúmeros cenários poderão se configurar e irão impactar a posição da China na estrutura internacional e seus projetos de escopo global, podendo sinalizar para uma maior influência chinesa nas instituições, aumentando a legitimidade e liderança desde país nas dinâmicas internacionais. Ao mesmo tempo que a expansão do agrupamento poderá fortalecer a possibilidade de uma nova ordem internacional baseada nos países do Sul Global, também poderá direcionar para um contexto de multipolaridade, com o estabelecimento de uma ordem policêntrica, em que os BRICS e seus membros atuem de maneira a rivalizar com as estruturas lideradas pelo ocidente.

 


Referências:

 

LUKIN, Alexander; XUESONG, Fan. What is BRICS for China? Strategic Analysis – Institute for Defence Studies and Analyses, 2019.

SILVA, André Luiz Reis da. O BRICS e a governança global. Evento realizado pelo CEBRI, no dia 07 de julho de 2022.

VAZQUEZ, Karin Costa. Expansion of BRICS to boost China’s influence? Here’s what expert says. [Entrevista concedida a] Huma Siddiqui. Financial Express, June 13, 2022. Disponível em: <https://www.financialexpress.com/defence/expansion-of-brics-to-boost-chinas-influence-heres-what-expert-says/2558910/>. Acesso em: 08 jul. 2022.

YING, Liu. O BRICS e a governança global. Evento realizado pelo CEBRI, no dia 07 de julho de 2022.